A Educação está em moda. Nos noticiários, nas novelas e até no bar é muito comum ouvir a reprodução do raciocínio de que o país vive um excelente momento, mas que a continuidade disso dependerá de uma “educação de qualidade”.
No senso comum, da população que coloca seus filhos na rede pública e se encanta com o material escolar e uniforme distribuídos pelo governo, essa qualidade de ensino depende da “boa vontade” dos professores. (Aliás, o grosso da população não simpatiza muito com os professores…)
Argumentando dentro desse raciocínio, se a qualidade de ensino depende da “boa vontade” dos professores, o que se pode fazer para que essa “boa vontade” apareça? Alguns, mais exaltados e desconfiados, diriam que é preciso fazer uma completa reformulação dos quadros docentes, pois os professores que hoje lecionam estariam em fim de carreira, numa postura acomodada e viciada na reclamação. Outros, mais estudados (vários pedagogos de plantão), diriam que esses professores tornaram-se insensíveis e inacessíveis aos seus alunos, não realizando o esforço necessário para compreendê-los e motivá-los.
Talvez, o que nenhum desses diria é uma coisa que pode ser constatada pela estatística: faltam professores e faltam ainda mais pessoas interessadas em ser professores.
O fato dos cursos de licenciatura apresentarem cada vez muitas matrículas talvez sugira uma realidade diferente. Por serem os mais acessíveis à população em geral, por uma questão de custo, tempo, disponibilidade noturna e até uma relativa facilidade de colocação profissional (se faltam professores não é tão difícil para um professor conseguir um emprego…), esses cursos de licenciatura realmente apresentam um considerável número de matrículas, mas essa quantidade de matrículas não significa que todos os matriculados se tornam professores, já que uma parcela considerável desses (cerca de 30%, em média) acaba abandonando o curso antes da formatura. Dos que se formam, outra parcela razoável (também cerca de 30%) acaba trabalhando em áreas diversas da educação.
Então, por esse raciocínio, apenas 40% dos estudantes de cursos de licenciatura se tornam professores. Se todos que se matriculassem nesse cursos se tornassem professores, ainda sim haveria um descompasso entre oferta e demanda.
Seguindo o raciocínio do “mercado”, se a demanda por professores é maior que a oferta de pessoas para realizar essa função, naturalmente, o valor do salário seria ajustado para cima, para equilibrar a balança.
Como o mercado vive de perspectivas futuras, não se pode desconsideram que entre os professores que lecionam hoje, que já são um número insuficiente diante da demanda, existe uma parcela considerável (também cerca de 30%) de professores que deixarão a educação nos próximos cinco anos, seja por aposentadoria, seja por ter encontrado algo melhor.
Novamente, num raciocínio de mercado, a pressão dessa perspectiva faria com que o valor dos salários dos professores subisse, para equilibrar a equação e estimular a entrada de novos professores.
Mas, estamos analisando essa matemática sem considerar os “professores” do Palácio dos Bandeirantes.
Analisando friamente o que foi dito e prometido na campanha de 2010, fica claro que o objetivo do Governo do Estado de São Paulo é o esvaziamento da Rede Pública Estadual.
Na proposta de governo do grupo que comanda o Estado há quase 20 anos e que foi eleito no primeiro turno, o foco é o Ensino Técnico.
O raciocínio é simples: Aparentemente, se a Rede Pública Estadual funciona hoje com cerca de 230 mil professores, dos quais 40% são temporários (cerca de 90 mil), não teria sentido realizar um concurso público para professores efetivos, visando o preenchimento dos cargos vagos, para apenas 10 mil vagas. No entanto, se considerarmos que menos de 10 mil foram chamados e que o Estado tem insistido na municipalização do Ensino Fundamental, pela matemática do Palácio dos Bandeirantes, as escolas estão fechando salas de aula, concentrando alunos nessas salas (as vezes mais de 50 por sala) e fechando cargos de professores. Ao mesmo tempo, o Estado está ampliando a Rede de Escolas Técnicas (ETECs e Paula Souza), sem aproveitar o conhecimento dos professores que estão hoje na Rede Pública Estadual.
Por que?
Retórica à parte, o Governo do Estado possui quadros administrativos inteligentes e esse mesmo governo já percebeu a besteira que fez. Não há como, nos dias de hoje, revogar a famigerada Progressão Continuada, simplesmente porque o sistema não suportaria. (Numa estimativa otimista, sem a Progressão a reprovação dos alunos superaria os 40% e não haveria como acomodar essa gente…)
Então, se não há como revogar e progressão e já se percebeu seu efeito, a alternativa do Governo do Estado é simplesmente criar uma outra rede, em novos moldes.
As redes de Ensino Técnico do Estado de São Paulo, por exigência legal, selecionam seus professores por concurso público. No entanto, o concursos público dessas redes é descentralizado e o processo seletivo consiste em uma entrevista e uma aula dada para uma banca examinadora. Além disso, o contrato desses professores é mais flexível, pela CLT, o que facilita a dispensa do professor nos casos de necessidade orçamentária (ou política) e, principalmente, não pesa sobre o sistema previdenciário do Estado (CLT=INSS).
Ainda, contrariando o idealismo pedagógico que reinou no Estado de São Paulo, para estudar na Rede de Ensino Técnico o estudante precisa passar em um processo seletivo.
Nesse sentido, ao que tudo indica, nos próximos cinco anos a Rede Pública Estadual será esvaziada, com a municipalização do Ensino Fundamental e a expansão do Ensino Técnico, tornando-se um verdadeiro “Instituto de Assistência Social e Lazer” para aqueles estudantes que não conseguem ou não querem passar nos vestibulinhos das Escolas Técnicas.
Mas, como fica a questão da demanda por professores? Se faltam tantos professores e a natureza da profissão já não atrai, a atitude mais lógica do governo seria a valorizar o salário dos professores em uma proporção maior que o salário pago aos demais profissionais de nível superior, para estimular a entrada de pessoas qualificadas na educação.
Provavelmente, isso até será feito com a Rede de Ensino Técnico a ser ampliada, mas por enquanto, vale a matemática do mendigo.
Esse texto foi publicado no blog como comentário do usuário “NE” ao artigo Regras da Atribuição de aulas 2011, no dia 19/01/2011, às 17:10
MATEMÁTICA DE MENDIGO
Tenho que dar os parabéns ao estagiário que elaborou essa pesquisa, pois o resultado que ele conseguiu obter é a mais pura realidade.
Preste atenção….
Um sinal de trânsito muda de estado em média a cada 30 segundos (trinta segundos no vermelho e trinta no verde). Então, a cada minuto um mendigo tem 30 segundos para faturar em media pelo menos R$ 0,20, o que numa hora dará: 60 x 0,20 = R$12,00.
Se ele trabalhar 8 horas por dia, 25 dias por mês, num mês terá faturado: 25 x 8 x 12 = R$ 2.400,00.
Será que isso é uma conta maluca?
Bom, 12 reais por hora é uma conta bastante razoável para quem está no sinal, uma vez que, quem doa nunca dá somente 20 centavos e sim 30, 50 e às vezes até 1,00.
Mas, tudo bem, se ele faturar a metade: R$ 6,00 por hora terá R$1.200,00 no final do mês.. Ainda assim, quando ele consegue uma moeda de R$1,00 (o que não é raro), ele pode descansar tranqüilo debaixo de uma árvore por mais 9 viradas do sinal de trânsito, sem nenhum chefe pra ‘encher o saco’ por causa disto.
Mas considerando que é apenas teoria, vamos ao mundo real.
De posse destes dados fui entrevistar uma mulher que pede esmolas, e que sempre vejo trocar seus rendimentos na padaria. Então lhe perguntei quanto ela faturava por dia. Imagine o que ela respondeu?
É isso mesmo, de 45 a 55 reais em média o que dá (25 dias por mês) x 45 = 1.125 ou 25 x 55 = 1375, então na média R$ 1.100,00 e ela disse que não mendiga 8 horas por dia.
Moral da História :
É melhor ser mendigo do que estagiário (e muito menos PROFESSOR), e pelo visto, ser estagiário e professor, é pior que ser Mendigo…
Se esforce como mendigo e ganhe mais do que um estagiário ou um professor.
Estude a vida toda e peça esmolas; é mais fácil e melhor que arrumar emprego.
E lembre-se :
Mendigo não paga 1/3 do que ganha pra sustentar um bando de ladrão.
Viva a Matemática.
Que país é esse?
Por fim, diante dessas reflexões e da postura apresentada pelo Governo do Estado, estamos diante de um eminente Apagão da Educação. Nesse apagão, os professores temporários que não estiverem preparados para serem aprovados nos concursos públicos estaduais e municipais, ou que não se prepararem para assumir outra profissão, poderão ser descartados à semelhança dos mendigos.
Eis que estamos passando por uma enorme massificação da classe profissional conhecida como docente.
O governo não se contentou em massificar nossos alunos, e fez a mesma coisa, na contra mão com os professores, começando pelo Estado de São Paulo, e possivelmente, é uma questão de tempo,para que esta demanda se espalhe por todo nosso imenso Brasil!!!!
Nota 10 para esse texto…
E só para apimentar o que foi elucidado acima, o governo federal está implorando para que os jovens sejam “Professores” colocando propaganda na mídia.
A promoção automática fez com que o número de estudantes de escolas pública desinteressados em estudar fosse proporcional à procura pela profissão de ‘Professor”.
Os novos professores deverão fazer parte das estatísticas de que “”Professor ganha 40% menos que média do trabalhador brasileiro com mesma escolaridade””
Enquanto um assalariado, que tem escolaridade superior ao ensino médio, recebe mensalmente R$ 2.799 por 40 horas semanais de serviço, um docente com a mesma quantidade de anos de estudo tem remuneração de R$ 1.745 por mês. O salário médio mais baixo é do Estado de Pernambuco — R$ 1.219 — e o mais alto é do Distrito Federal — R$ 3.472.
Para quem está no magistério a alguns anos, como eu e muitos outros está porque gosta e sonhava com aulas e salários maravilhosos e isso não aconteceu. Alguns estão mudando de profissão e outros esperando a aposentadoria. Agora, quem está começando e vendo a realidade das escolas e dos alunos deveria pensar no salário.
Excelente artigos estãosendo publicados neste site, acredito que cada vez mais pessoas se sensibilizaram.
Otimo artigo, Parabéns.
Apenas lamento participar desta farsa desde que ingressei na educação, em 1992. São quase vinte anos vendo (e quase nada podendo fazer) o descalabro e o descaso com que a educação pública estadual de SP.
Ao contrário do que os otimistas apregoam não há mais solução. “Eles” conseguiram sucatear o ensino público em São Paulo.
É, mas não tem cursos de licenciatura a rodo não, me formei agora e faz 3 anos que meu curso não abre vagas, aliás queria fazer espanhol e não consegui em nenhuma faculdade, não formavam turmas, vou ter que prestar USP esse ano, voltei para a cadeira dos cursinhos, é o jeito.
Olha Wellington minha irmã é formada desde de 2007, e só em Agosto do ano passado ela conseguiu pegar aula de Espanhol no estado, e o pior caiu no contrato e este ano nem sequer ela pode entrar na sala de aula…é um absurdo não é?
Como pode, não tem professor no estado e os que podem lecionar são impedidos por conta de uma lei? O pior é que não da para entender, o próprio governo instituiu espanhol no currículo e impede que os novos possam atuar, como funciona isso?
Parece medonho, mas será que cabe uma ação contra a see nesse caso, pois ela está impedindo o correto andamento da educação em sp proibindo professores de atuarem e permitindo que uma resolução que ela mesmo criou vigore, pelo menos no caso dos professores de espanhol?
Creio que possam haver dois erros nessa postagem.
I – A primeira, diz respeito às porcentagens. Afirma a postagem que dos alunos de licenciatura, 30 % abandonam antes da conclusão do curso, e que do dos que se formam, outros 30% não trabalharão dentro de áreas da Educação. Ainda segundo a postagem, teríamos portanto 40% das pessoas que iniciaram algum curso de licenciatura trabalhando, após o término do curso, dentro da Educação.
Isto posto, pensemos.
Se 30% dos estudantes abandonam o curso antes da formatura, 70% se formam. Se desses 70% que se formam, 30% não trabalharem dentro da Educação, temos que 70% dos 70% trabalharão com a Educação.
O que em outras palavras, significa que 49%.
Colocando isso em números.
Se 100 alunos iniciam uma licenciatura e 30% não a concluem, temos o número de formandos igual a 70. Desses, se 30% não trabalharem na Educação, teremos 21 pessoas trabalhando em áreas diversas, o que nos daria 49 pessoas trabalhando em áreas da Educação. Portanto, 40% do montante de alunos inicial.
II – Creio também que haja um erro na matemática do mendigo.
Dado um semáforo que sinaliza três estados (verde, amarelo e vermelho) e que cada estado permanece ativo por igual tempo (30 segundos), então temos que cada estado permanece ativo por 1/3 do tempo. Em uma hora (60 minutos), temos o sinal vermelho ativo por 1/3 de 60 minutos. Ou seja, em 1 hora, o sinal vermelho fica aceso por 20 minutos, ou 1.200 segundos, valor que representa 40 ciclos de 30 segundos. Portanto, em uma hora, um mendigo tem a chance de pedir dinheiro 40 vezes. Se em cada uma dessas vezes ele faturar R$ 0,20, então em uma hora o valor que ele arrecada é R$ 8,00. Se esse mendigo trabalhar 8 horas por dia, e por essas 8 horas conseguir manter a média de arrecadação em R$ 0,20 por ciclo de sinal vermelho (R$ 8,00 por hora), ao final de um dia, terá arrecadado R$ 64,00. Mantida essa arrecadação por 25 dias, o total arrecadado será R$ 1.600,00.
Por favor, me corrijam se eu estiver errado.
olá,
gente preciso do modelo pra fazer o projeto da fundação casa alguém tem para enviar para o meu email?
email: borgkryst@hotmail.com
Tar
Com variações sazonais e regionais, a proporção entre os matriculados no primeiro ano de um curso de licenciatura e os que se tornam professores é essa mesma. A falta de professores, especificamente de Matemática, Física e Química, é uma realidade;
Sobre a Matemática do mendigo, acreditamos que o autor tenha tido a intenção de satirizar e conduzir a reflexão, pois mesmo que esse mendigo fature apenas 1.600,00, esse valor é maior que o salário que recebe a maioria dos professores do Estado de São Paulo
Professores categoria “O”
Tendo em vista os acontecimentos que envolvem essa categoria e a necessidade de união dos professores, haverá uma reunião com os professores categoria “O” na subsede da APEOESP Diadema, para discutir a situação desta parcela significativa de professores.
Dia 28 de janeiro na subsede Diadema às 10h
Rua: Orense 642, centro
BOA TARDE… ALGUÉM PODE ME ESCLARECER UMA DÚVIDA? NO EDITAL DE ATRIBUIÇÃO DE AULAS 2011 ESTÁ QUE A CLASSIFICAÇÃO PARA ACT SAIRIA DIA 24/01/11 E HOJE JA É 26/01/11 E NÃO TEM NADA DE CLASSIFICAÇÃO, ALGUÉM SABE A DATA. OBRIGADA E PARABÉNS PELAS MATÉRIAS DO SITE…
Para mudar a imagem dos professores da rede estadual, conforme afirma o texto “No senso comum, da população que coloca seus filhos na rede pública e se encanta com o material escolar e uniforme distribuídos pelo governo, essa qualidade de ensino depende da “boa vontade” dos professores. (Aliás, o grosso da população não simpatiza muito com os professores…)”, penso que em primeiro lugar todos os professores deveriam utilizar os livros distribuídos e por obrigação moral transmitir todos os conhecimentos previstos para o ano correspondente. PENSEM NISSO!!!!!
parabéns pelo texto essa é a realidade do professor em são paulo.
É.. GOSTEI MUITO DE PARTICIPAR DESSA DISCUSSÃO SOBRE A EDUCAÇÃO.O que temos visto é que cada vez mais o profissional professor tem sido massacrado, esmagado pelas politicas pública que insistem em colocar a culpa da péssima qualidade da educação sempre no professor….
Ednildo, é lamentável que ainda existam pessoas, que se interessam pela educação, que achem que o professor deve “transmitir” conhecimentos, o que, aliás, seria muito fácil. O processo é de construção do conhecimento, e isso requer sim professores valorizados e salas de aula com um número muito menor de alunos do que a nossa realidade!
Acho lamentável também os leitores se apegarem aos números, que são meramente ilustrativos, e não conseguirem perceber o imenso problema que esse texto demonstra.
Parabéns à equipe que colabora com esse site que sempre traz artigos de altíssimo nível!
O que fazer o professor? que por motivos alheios, não fez o concurso do processo seletivo, não pode lecionar no ano de 20011.
Excelente texto! Concordo com a Marta. Os problemas da Educação Pública do Estado de São Paulo são tantos, que qualquer esperança por uma Educação de qualidade já está no campo da utopia.
Entendo que também há um fator que contribui decisivamente para a decadencia total da Educação: A população vive um estado de barbárie tão imensa, que se posicionou contra a Escola, contra o Professor, contra a Educação.
A luta pela Educação é uma luta de toda a sociedade.
[…] (texto extraído de: https://professortemporario.wordpress.com/2011/01/19/o-mendigo-o-professor-e-a-matematica-do-governo-…) […]