Concurso professor – Parte geral
Prof. Sebastião Miguel
AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM ESCOLAR
Cipriano Luckesi
Primeiro Capítulo
Pedagogia do Exame
A prática educativa atual é vista como a pedagogia do exame. Essa prática está visivelmente no 3º ano do Ensino Médio, em que todas as atividades docentes e discentes estão voltadas para um treinamento de “resolver provas”, tendo em vista a preparação para o vestibular.
Comentário:
Sabemos que a porta de entrada para uma universidade ainda é o vestibular, muito embora o Enem seja colocado aí como outro meio do êxito, entretanto, o aluno não está livre do exame. O autor afirma em seu texto que os pais, a sociedade e o professor estão voltados à promoção do aluno e o sistema de ensino está interessado nos percentuais de aprovação e reprovação do total dos educandos; o foco é se o filho irá ou não à série seguinte.
A prática docente é utilizar os mecanismos de avaliação como elementos motivadores dos estudantes, por meio de ameaças; os estudantes estão sempre na expectativa de virem a ser aprovados ou reprovados. Observa, então, que as avaliações São voltadas às provas (exames) – segundo o autor o que deveria ser voltado a uma pedagogia do ensino/aprendizagem.
Durante o ano o aluno fica na expectativa de como ele será avaliado e, por conseguinte, como será sua promoção ao final do ano letivo. Verifica-se, a predominância da nota obtida ao longo dos bimestres que serão somadas e tirada uma média que promoverá ou não o aluno.
O que vale observar que essas notas não explicitamente justificadas como elas foram obtidas, quais foram os caminhos que o docente chegou para somá-las, quais foram os critérios utilizados. Demonstra nessa prática o descompromisso com a avaliação ativa do processo ensino/aprendizagem.
Os professores utilizam as aprovas como instrumentos de ameaça e tortura prévia dos alunos, protestando ser um elemento motivador da aprendizagem. Quando o professor sente que seu trabalho não surtiu efeito esperado, anuncia aos seus alunos “Estudem! Caso contrário vocês poderão se dar mal no dia da prova”.
Quando observa que seus alunos estão indisciplinados, é comum o uso da expressão: “Fiquem quietos! Prestem atenção! O dia da prova vem aí e vocês verão o que vai acontecer”. Ou então ocorre um terrorismo homeopático. A cada dia o professor faz uma nova ameaça.
Comentário
O que podemos verificar nas palavras do autor é sem dúvida uma prática bastante comum nas escolas. Salientamos ainda, que a crítica está voltada basicamente na prática docente e, isto, não deve ser deixado de lado na hora do concurso, pois muitas vezes criticamos o sistema; neste caso Luckesi afirma ser de autonomia do professor avaliar de forma significativa seus alunos, mas pela burocracia do sistema e cobrança de uma sociedade conservadora, o professor acaba por desviar o foco da avaliação da aprendizagem para a avaliação do exame. Isso o autor deixa bem claro quando afirma que os professores utilizam as provas como um elemento de ameaça.
O estudante deve se dedicar aos estudos não porque os conteúdos sejam importantes, significativos e prazerosos de serem aprendidos, mas sim porque estão ameaçados por uma prova. O medo os levará a estudar (Luckesi, 2009, pág. 18).
Os pais estão na expectativa das notas de seus filhos. O importante é que tenham notas para serem aprovados. Isso fica claro na denominação da reunião de pais e mestres, no final de cada bimestre letivo, especialmente no nível de 1º grau. Os professores, nesta ocasião, conversam com os pais das crianças que estão com “problemas”. Tais problemas, muitas das vezes, estão relacionados às baixas notas de aproveitamento.
Comentário
Luchesi aborda um fato importante sobre as reuniões de pais e mestres ao final de cada bimestre. Ele aponta que essa reunião nada mais é para ter a oportunidade de conversar com os pais dos alunos com baixo rendimento escolar, que são taxados de problemáticos. Na visão do autor essa reunião deveria para conversar com os pais dos alunos com relação ao ensino/aprendizagem, independentemente de aprovados ou não. Aborda ainda, que esses encontros não dão margem para as conversas. Os pais daqueles alunos que obtiveram “êxito”saem satisfeitos da reunião e aqueles pais dos alunos “fracassados” saem desmotivados por não saber o que fazer para mudar esse quadro.
Com relação ao estabelecimento de ensino
Está centrado nos resultados das provas e dos exames.
O estabelecimento, por meio de sua administração, deseja verificar no todo das notas como estão os alunos. As curvas estatísticas são suficientes, pois demonstram o quadro global dos alunos no que se refere ao seu processo de promoção ou não nas séries de escolaridade.
Segundo o autor as estatísticas escondem, pois é uma aparência que pode satisfazer caso seja compatível com a expectativa que se tem. A LEITURA dessas estatísticas pode ser crítica ou ingênua, dependendo das categorias com que forem lidos.
O sistema social se contenta com as notas obtidas nos exames
O próprio sistema de ensino está atento aos resultados gerais. Só aparentemente
Notas, estatísticas, quadro gerais de notas. Só isso é interessante ao sistema.
Comentário
A discussão gira em torno de que a escola que efetua de forma significativa do ponto de vista do ensino e de uma correspondente aprendizagem significativa, social politicamente, o sistema coloca o olho nela.
Explicando: Uma escola pode apresentar um bonito quaro de notas e estatísticas belas e prazerosas e não estiver atentando contra o decoro social, ela estará muito bem. Caso contrário, se agir na normalidade, ou seja, na perspectiva da formação de uma consciência crítica do cidadão, será “autuada”. Enquanto o sistema de ensino estiver dentro dos conformes, o sistema social se contenta com os quadros estatísticos. Saindo disso os mecanismos de controle são automaticamente acionados: pais que reclamam da escola; verbas que não chegam; inquéritos administrativos etc.
Síntese
Os sistemas de exames, com suas consequências em termos de notas e suas manipulações, polarizam a todos. Os acontecimentos do processo de ensino e aprendizagem, seja para analisá-los criticamente, seja para encaminhá-los de uma forma mais significativa e vitalizante, permanecem adormecidos em um canto. De fato, a nossa prática educativa se pauta por uma pedagogia do exame. Se os alunos estão indo bem nas provas e obtém boas notas, o mais vai…
Desdobramento
Provas para reprovar: Os professores elaboram suas provas para aprovar os alunos e não para auxiliá-los na sua aprendizagem; por vezes, ou até em muitos casos, elaboram provas para reprovar seus alunos. Esse fato possibilita distorções, as mais variadas, tais como: ameaças, das quais já falamos; elaboração de itens de prova descolados dos conteúdos ensinados em sala de aula; construção de questões sobre assuntos trabalhados com os alunos, porém com um nível de complexidade maior do que aquele que foi trabalhado; uso de linguagem incompreensível para os alunos etc.
Ponto a mais e pontos a menos: Os professores fazem promessas de ponto a mais e pontos a menos em função de atividades escolares regulares ou extras , que não estão essencialmente ligadas a determinados conteúdos. Como exemplo, podemos mencionar o professor que diz: “Quem, na próxima semana, trouxer todo material necessário para as atividades de ciências já terá um ponto a mais na nota final”. O que tem a ver esse ponto com a efetiva aprendizagem de ciências, físicas e biológicas? Essa situação se repete com o mais variados conteúdos escolares.
Uso da avaliação da aprendizagem como disciplinamento social dos alunos: A utilização das provas como ameaça aos alunos, por si, não tem nada a ver com o significado dos conteúdos escolares, mas sim com o disciplinamento social dos alunos, sob a égide do medo.
Luckesi afirma que esses fatos não se dão por acaso. Tais práticas já estavam inscritas nas pedagogias dos séculos XVl e XVll, no processo de emergência e cristalização da sociedade burguesa, e perduram ainda hoje.
Os jesuítas dos século XVl, nas normas para a orientação dos estudos escolásticos, seja nas classes inferiores ou nas superiores, ainda que definissem com rigor os procedimentos a serem levados em conta num ensino eficiente que tinha por objetivo a construção de uma hegemonia católica contra as possibilidade heréticas, especialmente as protestantes, tinham uma atenção especial com o ritual das provas e exames. Eram solenes essas ocasiões, seja pela constituição das bancas examinadoras e procedimentos de exames, seja pela comunicação pública dos resultados, seja pela emulação ou pelo vitupério daí decorrente.
Comentário
Nesse aspecto destacamos um ponto interessante: Temos de fato um modelo a ser seguido desde os primórdios do processo avaliativo ao longo dos séculos? O que Luckesi aborda, nesse sentido, é que o sistema de ensino tem um elo a esses mecanismos, mas que em sala de aula o professor ainda mais contribui para que isso se torne ainda mais efetivo nas instituições de ensino. O que de fato, o texto aborda, é o caminho seguido pela educação no que diz respeito à avaliação. Sendo ela uma ferramenta de ensino e aprendizagem não deve, então, ser voltada aos exames de promoção, muito menos no intuito de oferecer números para que o sistema educacional faça uma leitura errônea na aprendizagem significativa dos alunos.
Assim, toda avaliação deve ser voltada na efetivação da aprendizagem significativa. Os conteúdos, objeto de estudos, devem ser também revistos caso o aluno não obtenha êxito. Não se pode, também, aproveitar o momento avaliativo para provocar ou ameaçar os alunos, muito menos pedir em provas aquilo que não foi ensinado.
A pedagogia comeniana:
Comênio insiste na atenção especial que se deve dar à educação como centro de interesse da ação do professor; porém, não prescinde também do uso dos exames como meio de estimular os estudantes ao trabalho intelectual da aprendizagem. Segundo ele, um aluno não deixará de se preparar para os exames finais do curso superior se souber que o exame para a colação de grau será pra valer. Porém, mais que isso, Comênio diz que o medo é um excelente fator para manter a atenção dos alunos. O professor pode e deve usar esse “excelente” meio para manter os alunos atentos às atividades escolares. Então, eles aprenderão com muita facilidade, sem fadiga e com economia de tempo.
Nesse texto
Luckesi ao citar a pedagogia defendida por Comênio, lembre-se, que o autor cita outro autor o que pode levar o professor a entender que a fala acima se trata de Lukesi, na verdade o autor faz uma reflexão daquilo que pensou Comênio com relação à avaliação. Observe nesse discurso: “O professor pode e deve usar esse “excelente” meio para manter os alunos atentos às atividades escolares”. Não condiz com nossa realidade atual, isto é, sabemos que o processo avaliativo é realizado na concepção construtivista e tem como objetivo desenvolver as competências e as habilidades dos alunos, em um processo contínuo de aprendizagem. A escola, entretanto, continua realizando, apesar de mudanças significativas, o mesmo processo de séculos atrás, presentes nas aprovas e exames. Se examinarmos atentamente a crítica atual relacionada à avaliação da aprendizagem, veremos que os caminhos percorridos até agora são contraditórios e, é isso que Luckesi traz para a discussão e reflexão dos professores.
Aguardem novas publicações