Ensinando impunidade
O Estado de S. Paulo, edição de 31 de dezembro de 2009
Luís Fernando de Lima Júnior
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Desde a implantação da estrutura curricular de ciclos de quatro anos em regime de progressão continuada na rede de ensino básico do Estado de São Paulo, a realidade do cotidiano escolar aponta na direção de um aumento nos casos de indisciplina e violência dentro da escola. Talvez um dos efeitos mais nefastos desses 12 anos de uma política educacional equivocada seja a desconstrução de um dos principais valores da escola: o estudo. A necessidade de estudar para garantir a aprovação por boas notas foi substituída pela falta de perspectiva. Os alunos podem fazer o que quiserem na escola que sua aprovação está garantida.
Sem apologia ao passado, percebe-se que a pressão exercida sobre os estudantes, quanto à obrigação de se apresentar resultados, fazia os alunos demonstrarem melhor rendimento escolar, propiciando-lhes maior preparo para a competição do mercado de trabalho. Reconhecendo que essa pressão era, muitas vezes, exagerada, não se pode negar que tal necessidade desenvolvia nos alunos uma qualidade e um senso de responsabilidade que já não existem.
Com a radicalização de uma interpretação da progressão continuada, que em sua proposta original não excluía a retenção dos alunos com graves defasagens de aprendizagem, criou-se um vício que desestrutura a capacidade de aprender sozinho pelo estudo – justamente a principal habilidade requerida pela sociedade contemporânea.
Em razão disso, nossas crianças cresceram acreditando que não precisavam dedicar-se aos estudos, pois sua aprovação era apenas uma questão de tempo. Mesmo que ultrapassassem o limite legal de faltas, teriam ainda a possibilidade de compensá-las de uma forma simples e facilitada.
De acordo com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei Federal nº 9394/96), a educação básica em todo o País deverá ter, no ensino fundamental e no ensino médio, uma carga horária mínima de 800 horas divididas em 200 dias letivos, com frequência mínima do aluno para aprovação de 75%, devendo a escola notificar os pais, o Conselho Tutelar e o promotor competente sobre os excessos de faltas dos alunos menores. A redação da lei é clara: mesmo que se adote o regime de progressão continuada, a promoção do aluno está condicionada ao cumprimento da frequência mínima no ano letivo.
Em vez disso, a maioria das escolas da rede pública simplesmente compensa a ausência desses alunos pela realização de trabalhos escritos, referentes ao conteúdo perdido, sem mesmo questionar as razões do excesso de faltas. Nos casos envolvendo alunos menores, os pais chegam a ser comunicados, mas a prática do trabalho é a mesma. Muitas vezes não existe um critério para orientação e regulamentação dessas atividades.
Será mesmo que um trabalho escrito (muitas vezes copiado da internet sem nenhuma leitura ou reflexão, para ser impresso e entregue ao professor, sem que se tenha a preocupação de retirar as propagandas e o endereço eletrônico da página reproduzida) realmente compensa as explicações e o conteúdo perdidos em sala de aula?
Formados num ambiente pedagógico que não estimula o desempenho, os alunos com defasagem de aprendizagem são aprovados pela progressão continuada, mas não conseguem acompanhar seus colegas de sala de aula. Desestimulados e sentindo-se inferiorizados, manifestam apatia em relação aos estudos, o que tende a agravar ainda mais a situação, pois para sua autoestima é melhor acreditar que não querem do que admitir que não são capazes.
Com isso, indisciplina e violência explodem, já que a escola não consegue demonstrar um sentido para os estudos e as famílias não conseguem exercer sua autoridade, tornando professores e alunos reféns de um grupo de indivíduos, confusos e sem perspectivas, que, amontoados em salas de aula lotadas, interferem no desempenho escolar de todos os estudantes.
Sem a percepção de um objetivo para os estudos e sem as consequências disciplinares para suas atitudes, os alunos aprendem o pleno exercício da impunidade, acreditando que não existe consequência para seus atos e que mesmo em situações mais graves tudo pode ser resolvido com brincadeira.
Será mesmo possível convencer crianças e adolescentes sobre a importância de estudar e de frequentar as aulas, se a própria escola permite que sejam promovidos com rendimento e frequência insuficientes? Para qualquer estudante que questione essa situação a resposta soa como mais um incentivo para não se preocupar com os estudos.
E nesse contexto, o que faz o sistema? Além de propor paliativos como um manual de conduta para estudantes, ou impor uma série de medidas restritivas aos professores, como se fossem a única causa do problema, o Estado demonstra o seu ponto de vista nas propagandas institucionais, mas não modifica a política educacional que está na essência do problema.
Não é por acaso que nenhuma escola particular conceituada adota a progressão continuada. Não é por acaso que, de acordo com os números do Seade, atualmente a maior parcela da população economicamente ativa do Estado que enfrenta o desemprego tem entre 18 e 29 anos. São justamente os frutos dessa política.
Trata-se de uma geração condenada ao subemprego por não ter condições de se integrar ao mercado de trabalho competitivo. Pessoas jovens que não aprenderam a noção de regras e de consequências para seus atos, que certamente pesarão no orçamento de programas sociais do governo.
Luís Fernando de Lima Júnior é professor de História
em São José dos Campos
Sem comentários..
não faltou nem uma vírgula, no texto sobre Ensinado Impunidade, mas infelizmente os nossos governantes está transferindo p/ os professores toda a responsabilidade desse desastre educacional, não querem aceitar que o sistema não deu certo, e a maior burrice de todas as épocas é continuar no erro.
Que todos compreendam e digam não à essa PROGESSÃO CONTINUADA!!!!
ESSE PAÍS NÃO TEM JEITO – INJUSTIÇA SEMPRE PREVALECE
Segunda – feira, 09 de Fevereiro de 2009 12h00
Atribuição de aulas no Estado será pelo modelo antigo para garantir início do ano letivo no dia 16
Secretaria de Estado da Educação insistirá na Justiça para que professores possam ser avaliados se sabem conteúdos básicos
A Secretaria de Estado da Educação está determinando que suas Diretorias de Ensino realizem a partir de amanhã, terça-feira, 10 de fevereiro, o processo de atribuição de aulas a professores temporários pelo método antigo, utilizado em 2008: classificação por tempo de serviço e títulos. A medida tem o objetivo de garantir que as aulas comecem em 16 de fevereiro sem qualquer falta de professores.
No primeiro semestre de 2008 a Secretaria estipulou que uma prova iria se juntar ao tempo de serviço e títulos na atribuição de 2009. Esta prova avaliaria se os professores tinham conhecimento sobre a Proposta Curricular do Estado, ou seja, sobre o que deve ser ensinado em sala de aula. A prova aconteceu em 17 de dezembro, mas a Apeoesp (um dos sindicatos que representam os professores) entrou, dias depois, com pedido na Justiça e conseguiu invalidar a avaliação. Em seguida a liminar foi derrubada na Justiça, mas a Apeoesp insistiu contra a avaliação, conseguindo nova liminar em 4 de fevereiro.
Desde esta data o governo do Estado tenta reverter a decisão judicial. Como a atribuição de aulas está marcada para esta terça-feira, para que o ano letivo inicie (em 16 de fevereiro) sem qualquer falta de professores a Secretaria decidiu adotar o modelo antigo. O governo do Estado continuará a defender na Justiça a avaliação de professores, com apoio da Procuradoria Geral do Estado (PGE).
“A prova para professores temporários é parte de um grande processo, iniciado em 2007, para garantir maior qualidade do ensino. Trata-se de um conjunto de medidas, que inclui premiação por desempenho, aumento da infra-estrutura nas escolas, reforço da atividade pedagógica, reorganização do currículo e redução das faltas de professores”, afirma a secretária de Estado da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro.
A classificação dos professores pelo modelo antigo (sem a prova) está disponível no site da Secretaria: http://www.educacao.sp.gov.br. A prova para os temporários teve 214 mil inscritos – 114 mil de fora da rede e 100 mil que já eram temporários em 2008. Com a medida da Apeoesp contra a avaliação de professores, agora os 114 mil de fora da rede, como não têm tempo de serviço, tendem a ficar para trás na classificação para atribuição de aulas.
“Os professores temporários têm uma importante participação na rede. É fundamental que os alunos tenham os melhores professores nas salas de aula. Mas, com a Apeoesp contra a avaliação de professores na Justiça, sem a possibilidade de reversão imediata da liminar, resolvemos utilizar o modelo antigo”, diz Maria Helena.
CAROS COLEGAS EFICIENTES , OLHA A RECOMPENSA PELA NOSSA COMPETÊNCIA.
MARILEUSE
O que faremos? Pular do barco? De toda forma, já estamos afogados em tanta papelada que nos jogam na cara…. Será que perderam até o mínimo do senso-comum?
Professora Evanilda
O que será o tal senso comum?
Quando nos deparamos com situações de desrespeito, por parte dos alunos, dos pais e do Estado, nos é dito para ter o bendito senso comum.
Senso comum é entender que em vez de escola temos institutos de assistência social? Ou será que é reconhecer na escola em período integral como uma forma de contornar o problema, retirando os alunos o máximo possível do convívio com os pais para que não aprendam coisas erradas? (o pior é que tem quem defenda essa medida…)
O único senso comum que existe é que nenhum outro setor da sociedade se preocupa com isso, e o que é pior, cada vez menos pessoas se interessam por ser professor (no sentido integral da palavra)
Hoje, os que buscam a licenciatura ou o fazem por ser o curso mais barato, ou por ser mais fácil encontrar uma colocação. Como se entrar em uma sala de aula fosse apenas questão de escrever algo na lousa para que os alunos copiem…
Falou pouco e falou tudo ! É lamentável.
Escrevi esse texto uma semana após a “Comemoração do Dia do Professor”, nesse ano, quando tive a desagradável surpresa ao encontrar meu carro (comprado em 48 prestações, além de pequena entrada) e de mais três professores, RISCADOS, de forma gratuita, em frente à escola que estou há dez anos, considerada a melhor na avaliação do SARESP/2008, pela Diretoria de Ensino de Ribeirão Preto.
Enviei esse texto a um jornal da cidade, que não se interessou… que pena!
Vai aqui… tomara que alguém o ache interessante!
Violência, Professores e o Mérito
Professores não suportam mais o vandalismo, o desrespeito e a violência nas escolas.
A Sociedade somente aprenderá a respeitar e valorizar o profissional da educação no dia em que esse não for mais encontrado (o que já vem acontecendo).
A procura pelos cursos de licenciatura vem reduzindo a cada ano e o Governo Federal (MEC) tem se empenhado em propagandas na TV para tentar incentivar os jovens a optarem pela carreira do Magistério.
A cada dia aumentam os casos de destrato, agressões verbais (quase que virou rotina), insultos, violência física e prejuízos materiais.
Há urgência em repensar o que os governos e a sociedade devem fazer para extinguir, ou pelo menos reduzir a hostilidade e o descaso em relação aos profissionais da educação.
Parece que “tudo” acaba sendo despejado sobre eles: as frustrações das famílias que se sentem impotentes diante da missão de educar seus filhos; a insatisfação da sociedade, diante de poucas oportunidades oferecidas – resultado da má qualidade da educação oferecida por muitas escolas. O professor tem se sentido “refém” de uma cruel realidade.
A escola é o reflexo da sociedade: sociedade violenta, famílias desestruturadas, desempregos, drogas, mundo competitivo, pessoas extremamente consumistas, individualistas, egoístas e sem religião. Como mudar isso?
Medidas urgentes precisam ser tomadas.
Salários baixos resultam em aumento de carga horária. Muitos professores trabalham em três turnos, lecionam em várias escolas (públicas e particulares), resultando em uma média de 10 a 12 horas/aula por dia.
Consequências: profissionais, em sua maioria, “estressados”, impossibilitados de dedicarem-se com mais qualidade e paciência a clientelas muitas vezes problemáticas; escassez de tempo para lazer e família, cursos de reciclagem e aperfeiçoamento.
Como exigir ainda mais desses profissionais?
Para muitos (alguns que até se “julgam” especialistas) a indisciplina, a agressividade, a violência na escola, é culpa do professor.
Alegam que os professores estão despreparados para lidar com a realidade, que as estratégias utilizadas por muitos têm sido desastrosas, que é preciso rever conceitos, etc, etc.
Muitos professores admitem tomar medicamentos para suportar a pressão, a insatisfação e o desânimo (antidepressivos e ansiolíticos).
Eles não podem “ficar doentes” – essa é a realidade dos professores da Rede Estadual – porque “assiduidade” é um dos critérios para ser “presenteado” com o “bônus mérito”, e agora também para o aumento salarial anunciado pelo Governo nessa semana, além de uma “prova” a cada três anos (para professores efetivos).
E por falar em MÉRITO, a meritocracia precisa ser replantada na Educação de nosso Estado, de forma clara e transparente às famílias e aos alunos.
Seria o início para resgatar a educação de qualidade e o respeito, tão excluídos do contexto escolar nesse início de século.
A “promoção” deveria deixar de ser “automática”, conhecida formalmente com Progressão Continuada, e passaria a ser meritória. Dessa forma os alunos talvez ficassem mais preocupados com o “aprender e respeitar” e as famílias se preocupariam com o fato de que seus filhos poderiam “perder o ano”, caso não merecessem avançar em seus estudos, cujo objetivo é formar um cidadão democrático, crítico, letrado, sociável, conhecedor não só de seus direitos, mas também de seus deveres; capaz de formar uma família e repassar os valores recebidos: respeito, solidariedade, fraternidade e amor, conquistando um lugar na sociedade, um emprego justo e honesto para satisfazer todas às suas necessidades.
Talvez um dia as pessoas enxerguem tudo isso.
Um abraço,
Profa. Rogéria
No estado mais rico da Federação os alunos são aprovados sem os devidos conhecimentos básicos! A meta do governo é quantidade e não qualidade!
Quantos alunos “adentram” a quinta série ou o sexto ano sem saber ler e escrever, quantos alunos estão “aptos” a freqüentar o Ensino Médio sem o mínimo conhecimento do Ensino Fundamental, sem a mínima aptidão, são inaptos.
Os dados são da própria Secretaria de Estado da Educação que ridiculamente divulga a queda nos índices de reprovação, mas não observam para esse crime que estão cometendo com as nossas crianças e os nossos jovens, fazendo os acreditar que são capazes de freqüentar determinada série ou ano quando na verdade não possuem conteúdo algum.
A atual mentalidade do aluno paulista está contaminada pelo ridículo pensamento de ser importante apenas a freqüência escolar e não as notas que lhes são atribuídas pelas avaliações feitas pelos docentes, então para que avaliar? Para que perder tempo se a mentalidade do discente está poluída e legalmente amparada pela legislação que escancaradamente o chama de incompetente!
Algum professor pode dizer que sou muito forte nas palavras que pronuncio, mas não vejo outra maneira de nomear tal estado em que se encontram os alunos. Se o discente foi promovido com todas as notas vermelhas é correto afirmar que o mesmo foi incapaz de acompanhar os conteúdos propostos, obviamente será tachado de incompetente e o Estado com toda a sua “bondade” vai promovê-lo porque sua freqüência não foi baixa. Se o aluno não atingiu os conteúdos e mesmo assim passou de ano, o que interessa ao Estado, qualidade ou quantidade?
Enquanto a educação estiver vinculada aos interesses políticos nada vai melhorar, é dever do Estado garantir educação de qualidade a todos, porém não é dever do estado veicular seus interesses aos interesses educacionais!
Nosso povo parece “estacionado” no tempo, se contentam com as esmolas que o governo dá e nada faz para garantir um futuro melhor, anseiam viver sempre dependentes do governo que os querem cada vez menos informados, cada vez mais analfabetos, incompetentes e incapazes de questionar as leis e medidas provisórias editadas a todo o momento.
Nas reuniões é enfatizado sempre pelas autoridades que os níveis de repetência têm que reduzir a todo custo, tudo isso para exibir no exterior uma taxa recorde de aprovação, uma aprovação falsa embasada pelos interesses políticos que insistem em formar um país de incompetentes. A minha bandeira é pela educação pública de qualidade e não a falsidade que exibe falsos números de aprovados! É uma necessidade mais que urgente extinguir o Decreto 9/96 e exigir do aluno os devidos conhecimentos e não apenas a sua freqüência.
O texto ENSINANDO IMPUNIDADE é perfeito. Não tenho nada a acrescentar. Muito pelo contrário, elogiar o nobre amigo professor e colega de História (sou professor de História também!!) pelo apropriado texto.
Parabéns Prof Luis Fernando
Concordo, no atacado, com sua robusta análise e mesmo com o tom indignado.
Estou solidário, mas no varejo, vejamos:
Quem é a própria escola, “cara pálida”, que promove insuficiências? Como assim?
Quem é que afinal recebe e aceita trabalhos tipo: ‘control-c, control-v’ da net?
Quantos indicam aos pupilos a bibliografia adequada, acessível e mínima?
Quantos exigem e corrigem trabalhos manuscritos e de grupos pequenos?
Quantos exigem sustentação oral das idéias manuscritas, ainda que de forma amostral?
Quais foram os fóruns críticos criados, à semelhança deste ProfessorTemporário?
Há inúmeros caminhos, mestre, mas o operador principal precisa tomar o pião na mão. Né não?
PS: Este fórum exige certa intimidade com a compreensão e domínio do vernáculo, se dando ao direito de não responder a postagens inadequadas. Tudo bem, mas grafar fase com “z” ficará impune? ou neste caso não estaria sendo ensinado?
João Luiz
Se analisarmos com cautela, perceberemos que os “trabalhos tipo ctrl +c, ctrl +v são apenas um exemplo ilustrativo de como tem funcionado o processo. Realmente, é responsabilidade do professor indicar a bibliografia e as fontes de pesquisa para os estudantes. No entanto, a situação está tão confusa que muitos dos estudantes da rede pública apresentam dificuldades severas em conteúdos básicos como leitura e interpretação de textos; conteúdos que deveriam ter sido dominados nos anos iniciais do ensino fundamental.
Assim, dentro da proposta do artigo, estamos diante de um ciclo vicioso em que os estudantes não percebem sentido no estudo e quando se dão conta de que precisariam ter adquirido certas competências e habilidades para seu desenvolvimento profissional, já apresentam defasagens significativas, que acabam por limitar esse desenvolvimento.
Por que não existem mais professores
O ano é 2.210 D.C. – ou seja, daqui a duzentos anos – e uma conversa entre avô e neto tem início a partir da seguinte interpelação:
– Vovô, por que o mundo está acabando?
A calma da pergunta revela a inocência da alma infante. E no mesmo tom vem a resposta:
– Porque não existem mais PROFESSORES, meu anjo.
– Professores? Mas o que é isso? O que fazia um professor?
O velho responde, então, que professores eram homens e mulheres elegantes e dedicados, que se expressavam sempre de maneira muito culta e que, muitos anos atrás, transmitiam conhecimentos e ensinavam as pessoas a ler, falar, escrever, se comportar, localizar-se no mundo e na história, entre muitas outras coisas. Principalmente, ensinavam as pessoas a pensar.
– Eles ensinavam tudo isso? Mas eles eram sábios?
– Sim, ensinavam, mas não eram todos sábios. Apenas alguns, os grandes professores, que ensinavam outros professores, e eram amados pelos alunos.
– E como foi que eles desapareceram, vovô?
– Ah, foi tudo parte de um plano secreto e genial, que foi executado aos poucos por alguns vilões da sociedade. O vovô não se lembra direito do que veio primeiro, mas sem dúvida, os políticos ajudaram muito. Eles acabaram com todas as formas de avaliação dos alunos, apenas para mostrar estatísticas de aprovação.
Assim, sabendo ou não sabendo alguma coisa, os alunos eram aprovados. Isso liquidou o estímulo para o estudo e apenas os alunos mais interessados conseguiam aprender alguma coisa.
Depois, muitas famílias estimularam a falta de respeito pelos professores, que passaram a ser vistos como empregados de seus filhos.
Estes foram ensinados a dizer “eu estou pagando e você tem que me ensinar”, ou “para que estudar se meu pai não estudou e ganha muito mais do que você” ou ainda “meu pai me dá mais de mesada do que você ganha”.. Isso quando não iam os próprios pais gritar com os professores nas escolas. Para isso muito ajudou a multiplicação de escolas particulares, as quais, mais interessadas nas mensalidades que na qualidade do ensino, quando recebiam reclamações dos pais, pressionavam os professores, dizendo que eles não estavam conseguindo “gerenciar a relação com o aluno”.
Os professores eram vítimas da violência – física, verbal e moral – que lhes era destinada por pobres e ricos.
Viraram saco de pancadas de todo mundo.
Além disso, qualquer proposta de ensino sério e inovador sempre esbarrava na obsessão dos pais com a aprovação do filho no vestibular, para qualquer faculdade que fosse. “Ah, eu quero saber se isso que vocês estão ensinando vai fazer meu filho passar no vestibular”, diziam os pais nas reuniões com as escolas…
E assim, praticamente todo o ensino foi orientado para os alunos passarem no vestibular.
Lá se foi toda a aprendizagem de conceitos, as discussões de idéias, tudo, enfim, virou decoração de fórmulas.
Com a Internet, os trabalhos escolares e as fórmulas ficaram acessíveis a todos, e nunca mais ninguém precisou ir à escola para estudar a sério.
Em seguida, os professores foram desmoralizados. Seus salários foram gradativamente sendo esquecidos e ninguém mais queria se dedicar à profissão.
Quando alguém criticava a qualidade do ensino, sempre vinha algum tonto dizer que a culpa era do professor.
As pessoas também se tornaram descrentes da educação, pois viam que as pessoas “bem sucedidas” eram políticos e empresários que os financiavam, modelos, jogadores de futebol, artistas de novelas da televisão, sindicalistas – enfim, pessoas sem nenhuma formação ou contribuição real para a sociedade. Ah! Mas teve um fator chave nessa história toda.
Teve uma época longa chamada ditadura, quando os milicos perseguiram alguns professores, em nome do combate aos subversivos e à instalação de uma república sindical no país. Eles fracassaram, porque a tal da república sindical se instalou, os tais subversivos tomaram o poder, implantaram uma tal de “educação libertadora” que ninguém nunca soube o que é, fizeram a aprovação automática dos alunos com apoio dos políticos… Foi o tiro de misericórdia nos professores. Não sei o que foi pior – os milicos ou os tais dos subversivos.
– Não conheço essa palavra. O que é um milico, vovô?
– Era, meu filho, era, não é. Também não existem mais…
AUTOR DESCONHECIDO
Eu como mãe, vejo aqui muitos professores contra a tal progressão continuada, porém na realidade do dia a dia, a coisa parece ser diferente, meus filhos estudam na escola considerada uma das melhores de São José dos Campos, no entanto o que eu vejo é um cabide de empregos, a secretaria e direção com um punhado de gente andando pra lá e pra cá feito um bando de barata tonta.
Os professores alegam que a sala esta indisciplinada e que só vai dar aula pra quem se interessar porque o restante pode fazer trabalho pra ajudar na nota pra ter média final, que é o que interessa.
Meu filho do ensino fundamental escreve meia pagina duas vezes por mês, no restante ele não sabe o que estudou, pois fez capa pra prova, organizou as provas isso quando não vai pra pracinha fazer piquenique com a professora, “ABSURDO”, ainda por cima a professora justifica que não deu matéria porque deu uma folha a parte pros alunos que ninguém sabe explicar o que é de fato.
As salas de aula parecem mais área livre, aluno que abaixa calça uns do dos outros, se agridem, jogam stop, forca, tudo sobre a supervisão de um professor que não viu nada!
Ainda quando procuramos a direção, somos discretamente e indiretamente, chamadas de loucas, exageradas, pois tudo esta ocorrendo perfeitamente bem, nós que estamos exagerando na situação! Afinal o que nós somos? Meras mães que pagam impostos! Incentivam-nos até a contratar professor particular pra ensinar o que o professor não ensina em sala de aula, só falta nos dizer: “você que é uma mãe questiona e incomoda, porque não coloca seu filho em outra escola, assim nos isenta desse trabalho toso”, estou cansada disso, cheguei a ouvir da diretora da escola dos meus filhos que eu estou me importando demais sobre a matéria da sala de aula, alias todos passam de ano mesmo, o que importa é o aluno saber se virar, afinal tanto conhecimento pra que se tem o Google mesmo, hora que ele crescer e for precisar de conhecimento só usar o Google e com o famoso control-C e control-V ele rapidinho consegue o conhecimento pra imprimir e levar aonde ele quiser”.
O governo conseguiu com essa progressão continuada tirar toda qualidade da educação, coisa que já quase não tínhamos, as escolas são na verdade uma comunidade de afinidades, onde os professores não são escolhidos por capacidade ou empenho, mas sabe-se lá Deus porque, percebi que nessa escola professor que passa matéria e que se importa com os alunos de verdade, são eventuais ou não ficam por muito tempo, já aqueles que tratam o aluno como mal necessário pra ganhar dinheiro estão ali há anos.
Acredito que os professores deveriam ser avaliados e gratificados pelo seu conhecimento, empenho e interesse, os demais deveriam ser banidos da rede publica de ensino!
Não adianta diminuir o índice de repetência com a progressão continuada, se o analfabetismo esta crescendo, os jovens, lêem sem saber o que estão lendo, desde quando isso é progresso?
Anairda Takamura
Para que a educação caminhe é de extrema importância a participação dos pais no processo.
São José dos Campos é uma das poucas cidades do Brasil que têm todas as condições de fazer uma educação pública de qualidade (se esse fosse o objetivo da administração…). Isso, porque conta com um orçamento municipal de mais de R$ 1,4 bilhão, dos quais aproximadamente R$ 300 milhões são destinados à educação. Numa cidade de cerca de 600 mil habitantes e com uma rede de ensino municipal que da educação infantil aos anos finais do Ensino Fundamental conta com menos de 100 escolas (Para efeito de comparação, Taubaté tem metade desse orçamento e população e administra uma rede de ensino muito maior) percebe-se a real prioridade com uma simples análise sobre os números desse orçamento: a administração da secretaria municipal da educação consome mais recursos (R$ 40 milhões) do que o que se gasta com educação infantil (R$ 33 milhões). Isso, representa 56 vezes mais do que se gasta com administração da educação em cidades vizinhas, como Taubaté.
Ocorre que em São José dos Campos, assim como em muitos municípios do Brasil, a educação representa uma máquina eleitoral. Em primeiro lugar, porque a política educacional pautada na propaganda, na aparência e na disponibilização de recursos materiais (o que é positivo) demonstra para as comunidades uma qualidade visível, que não necessariamente representa a realidade. Nessa visão, em que a escola é um jardim no qual se cultivam votos, existe uma visão paternalista que confunde violência, desrespeito e depredação do patrimônio com a indisciplina natural e a energia das crianças e adolescentes. Nesse sentido, muitas escolas se tornam reféns de menores infratores, já que a secretaria de educação evita ao máximo se indispor com os pais desses alunos.
Em segundo lugar, porque uma rede de escolas que estão em constante reforma representa uma forma simples de se beneficiar as empreiteiras e empresas colaboradoras da administração, pela transferência direta dos recursos da educação para as mesmas, pela realização de obras de reforma nas escolas (obras que apresentam indícios e denúncias de superfaturamento). O pior é que essas reformas ocorrem com os alunos dentro da escola, numa situação que demonstra absoluta falta de preocupação com a segurança dos mesmos (sem mencionar a própria segurança dos operários que executam as obras, muitas vezes sem os equipamentos de proteção individual).
Por fim, a administração da secretaria de educação é uma forma de abrigar os colaboradores da administração municipal, pois conta com uma gigantesca quantidade de cargos comissionados de nomeação direta, que acabam sendo a razão de existência da rede municipal. Para se ter uma vaga ideia disso é preciso apenas passear nas proximidades do prédio da secretaria municipal de educação e observar a quantidade (e qualidade) dos carros estacionados lá dentro.
Sobre a parte pedagógica da rede de São José dos Campos, em 2008 participamos de uma pesquisa mais aprofundada sobre o tema, que se encontra disponível neste blog:
Apresentação do tema (artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo)
https://professortemporario.wordpress.com/2010/06/30/o-gargalo-da-educacao-em-sao-paulo/
Pesquisa completa (que foi oficialmente apresentada à Secretaria Municipal de Educação de São José dos Campos no final de 2008)
Infelizmente, acreditamos que a qualidade da rede pública municipal de São José dos Campos não caminha para uma melhora, pois como essa política eleitoral tem funcionado e atendido aos objetivos da administração municipal, não existe motivo para acreditar que algo irá mudar. Aliás, a continuidade dessa administração por muitos anos revela que para a maioria da população dessa cidade as coisas vão muito bem.
Tantos lamentos, tantas reclamações, e só quem ouve são os próprios professores? como pode então o governo tucano ser reeleito novamente?
Boa noite.
Estou na coordenação desde 2001, coordenando o Ciclo II, em 2008 entrou uma coordenadora designada para o Ciclo I, acontece que os alunos do Ciclo I serão encaminhados em 2011 para a escola da prefeitura. Estou percebendo que a supervisão esta com a intenção de não me reconduzir para o ano letivo 2011 e deixando a coordenadora no Ciclo II no meu lugar, ela não passou na prova de coordenação este ano. Caso isto aconteça a supervisora esta dentro da Lei? Ela pode reconduzir a coordenadora do Ciclo I para o Ciclo II automaticamente?
Agradeço a atenção. Obrigado.
Sra. Anairda Takamura, com todo o respeito é por causa de pais como a Sra. que o ensino(não vou falar educação) encontra-se desta maneira tão lastimável.Agora sim por falta de controle dos pais, diálogos, valores éticos e morais, e claro a EDUCAÇÃO que deveria vir de casa, a sala de aula se transformou nessa barbárie que vemos pelos poucos casos(não representam a ponta do iceberg acredito eu) de violência tanto física como o que está na moda agora: Bullying que é cada vez mais praticado, mostrando não apenas a falta de educação mas de humanização dos alunos de hoje.
Sou filha de professores, respeito imensamente as pessoas, pois tive essa educação e agradeço meus pais por isso, e sofro dia a dia com os relatos deles de como são maltratados e humilhados pelos alunos e por seus pais que não tem ou perderam a mínima noção de certo/errado e do bom senso.
Pois bem que sejam no futuro picados pelas cobras que estão criando, quem sabem talvez saibam valorizar os professores que pelo menos tentaram passar algum valor a esses indivíduos.
Sra. Anairda Takamura minha mãe sofreu um AVC minutos após sair da sala de aula, e eu espero que seus filhos nunca tenham que sentir a dor que eu senti nesse dia, por saber que as condições de trabalho e tamanho stress quase levaram a vida da minha mãe, não desejo essa tristeza a ninguém.
Além da progressão continuada como causa do aumento da violência eu apontaria o ECA com suas medidas socioeducativas (vista pelos menores como impunidade) como agravante para que hoje tivéssemos a violência ao nível que se encontra.
Aprovo sua reflexão.
O problema foi muito bem colocado nesse texto, mas tem que haver alguma maneira desse quadro se reverter! Não sei como seria possível pressionar o gioverno numa mudança de critério, deve haver uma forma que deveria ser utilizada e que não está sendo levada em consideração.
O que não pode é vermos este estado de situação e ficar calado, sem fazer nada, aceitando tudo passivamente!!!!!
Vou me formar este ano em Matemática e não imaginava nem em sonho que tal situação pudesse acontecer. A realidade que encontrei nesse semestre como eventual me mostrou uma situação de pesadelo, não dá para acreditar no que se vê!!!
Não sou uma pessoa passiva, e vou procurar uma forma de mudar essa condição. Todos devemos fazer disso uma cruzada!!!
Parabéns pelo site, me ajudou muito pelo que sou grata, o artigo traz à reflexão o que é maravilhoso, pois provoca diálogo e por que não polêmica, o que é positivo e produtivo. E não poderia deixar de desejar um Ano Novo repleto de realizações e prosperidade a toda essa equipe maravilhosa, sucesso.
O Professor Luís Fernando tem toda razão. Quem atua em escolas públicas brasileiras tem autoridade para avaliar a situação. Para quem partilha dessa análise, recomendo a leitura do livro “Indisciplina e impunidade na escola – Porque professores estão adoecendo e alunos não estão aprendendo”, o qual contém um capítulo com o título “Impunidade se aprende na escola”.